Maio 17, 2016

As tecnologias que vão mudar o mundo onde os seus filhos vão viver.

 

Já muito se escreveu sobre como a tecnologia está a mudar o mundo. E está mesmo. Basta pensar nas mudanças que assistimos em menos de 10 anos, por causa da introdução do smartphone. Mas o smartphone não foi a única inovação tecnológica e está muito longe de ser a última. Aliás, o ritmo da inovação tecnológica continua a acelerar, seguindo a Lei de Moore, que determina que a nº de chips utilizados e a sua potência dobra a cada 18 meses, sendo isso em simultâneo causa e efeito de um crescimento exponencial tecnológico.

Neste momento, nós atingimos um patamar tecnológico que nos vai permitir dar mais um salto quântico na forma como a tecnologia está presente nas nossas vidas. Esse patamar resulta do facto de se ter feito progressos muito significativos em termos de 5 áreas:

Inteligência artificial (IA) – No ano passado a IA conseguiu finalmente vencer o campeão mundial de GO – um jogo que para muitos é considerado o derradeiro teste à IA. E isto foi possível porque o Google conseguiu criar uma máquina que tem a capacidade de ensinar a si própria. Este foi o primeiro grande passo para começarmos a assistir a máquinas que podem ser consideradas inteligentes. Ainda há um longo percurso a fazer, mas tendo em conta a Lei de Moore, é de esperar que nos próximos 4 anos se venha a falar muito de IA.

Internet das coisas – há cada vez mais objetos do nosso quotidiano que não só estão ligados à internet, como têm a capacidade de recolher, enviar e receber dados. Isso confere-lhes duas capacidades: a de servirem como fontes de informação e a de poderem reagir em função de comandos enviados à distância. O exemplo que muitas vezes se dá é o da cafeteira que aquece e serve o café há hora que sabe que uma pessoa acorda, sem ser preciso fazer alguma coisa. Mas a internet das coisas vai tão mais para além de pôr a funcionar cafeteiras. Se quer saber mais, sugiro ver este vídeo.

Impressão 3D – tem que ver com a capacidade de imprimir objetos com corpo, com 3 dimensões. E nos mais diversos materiais. E serve para muito mais do que apenas imprimir estatuetas. Dúvidas? Veja este vídeo.

Realidade virtual – Este ano começa mais um novo ciclo da realidade virtual. Se é agora que vai pegar ainda é cedo para dizer. Mas não há dúvida que tem sido um motivo de obsessão humana há já quase 40 anos. E com sentido. As suas aplicabilidades são astronómicas e vão muito para além da indústria dos jogos. Por isso, mais ano, menos ano, vai acontecer.

Conectividade supersónica – ok, este termo eu acabei de o inventar, mas a verdade é que estamos a atingir velocidades de upload e download de dados verdadeiramente rápidas e novas gerações de conectividade vêm já a caminho, que nos vão dar ainda mais velocidade. E porque é isso importante? Porque só assim conseguimos que haja a comunicação, não só entre pessoas, mas entre biliões de objetos. E também só assim vamos conseguir a transmissão dos pesadíssimos ficheiros de realidade virtual.

Em que é que estas inovações tecnológicas se vão traduzir na vida dos nossos filhos? Aqui ficam as minhas previsões sobre as próximas 4 indústrias a sofrer disrupções massivas:

 

Disrupção 1 – Indústria automóvel

Quase ninguém vai possuir automóvel

Carros que conduzem sozinhos são já uma realidade que está a ser testada em estradas normais, desde 2009. E causou o primeiro acidente apenas este ano, ao fim de 1,3 milhões de quilómetros percorridos… Se juntarmos esta inovação com o Uber, é previsível imaginar onde isto vai parar. Total ausência da necessidade de possuirmos o nosso próprio veiculo. A qualquer momento, é só chamar um carro com as características necessárias e em minutos este estará ao pé de nós, para nos levar onde quisermos e por um custo muito inferior ao de possuir um automóvel.

Disrupção 2 – Turismo

“Vá para fora cá dentro” passará de campanha publicitária para realidade

As viagens em turismo ficaram ao alcance de quase qualquer um. É um facto. E isso conduziu a um enorme crescimento do turismo a nível mundial. Aliás, nós estamos a sentir isso na pele, em Lisboa. E com este crescimento veio outra coisa: a redução de qualidade da experiência turística. Isto porque visitar uma atração turística (por exemplo, um monumento) com alguma tranquilidade está cada vez mais a tornar-se uma impossibilidade. Hordas de turistas por todo o lado são cada vez mais uma constante. Os locais, esses estão a sofrer nas mãos da “souvenirite”, o com isso a perder cada vez mais a originalidade e a traça que os tornou numa atração turística.

Quando a realidade virtual proporcionar imersão total de todos os sentidos, o que acham que os vossos filhos vão preferir: visitar fisicamente os monumentos apejados de turistas e sem poderem sentir os locais, ou, colocar o equipamento e serem automaticamente teletransportados para o local do seu desejo, numa viagem solitária ou talvez na companhia apenas de amigos, onde podem visitar um monumento livres de filas e até com explicações adicionais ou inclusive, com o teletransporte para a época em que o próprio monumento foi criado?

Disrupção 3 – Mercado do trabalho

O fim das tarefas humanas rotineiras

Todas as tarefas cujo objetivo é otimizar a produção vão ser desempenhadas por máquinas. Isto significa não só o fim de vez do trabalho nas linhas de montagem das fábricas e dos taxistas, mas também de grande parte das tarefas realizadas pelos advogados, pelos funcionários administrativos ou pelos gestores. O ser humano vai estar livre para se dedicar em exclusivo a atividades criativas, científicas e de empreendedorismo. Isto claro, depois de dores sociais grandes de transformação. Mas vai ser inevitável. A pergunta que devemos colocar já hoje é: quão bem estamos a preparar as crianças portuguesas para terem mentes científicas curiosas , espíritos criativos ou resiliência para levar novos projetos para a frente? Suspeito que não vamos gostar da resposta…

Disrupção 4 – Medicina

O nascimento do homem máquina e o prolongamento da vida

Vivemos tempos impressionantes no que toca à evolução da medicina. Apenas para dar um exemplo, estamos quase a conseguir imprimir um rim! Quando o conseguirmos, a substituição de órgãos vai rapidamente tornar-se uma banalidade que muito irá fazer pelo prolongamento da vida humana. E os nossos corpos, aos poucos vão ser um misto entre natural e artificial, mas que em pouco ou nada se vai conseguir distinguir a diferença. Daqui, muitas transformações sociais vão decorrer, a começar com a forma que encontraremos para lidar com o aumento da esperança de vida, a redução da mortalidade e o crescimento ainda maior da população mundial.

Tenho poucas dúvidas sobre se estas disrupções vão ou não acontecer. As grandes dúvidas são mais sobre a velocidade a que vão acontecer. E esta vai depender sobretudo de como se vão comportar duas forças contrastantes: A força do conflito geracional, em que os mais novos vão ser a favor das mudanças e os mais velhos vão tender a resistir, e, a força da luta pelo poder, em que aqueles que beneficiam do mercado tal como está vão resistir ao máximo à mudança pelo que esta vai acontecer apenas nas mãos de novos agentes. O tempo o dirá.

Numa nota completamente diferente, aproveito para vos dizer que este artigo coincide com o fim de um ciclo na minha vida. No final do ano passado e depois de 20 anos de carreira dedicados em grande parte ao Marketing e à Comunicação de Marcas, vendi a minha participação na agência que ajudei a criar há 10 anos atrás e dei inicio a uma nova etapa.

Nesta nova etapa, vou dedicar o meu tempo e energia a duas atividades que gritavam por maior atenção da minha parte. A primeira corresponde a um já antigo sonho meu. O de transformar Portugal num centro de produção digital para o resto do mundo. O segundo, corresponde a uma paixão descoberta mais recentemente, embora há muito more em mim. Trata-se da paixão por ajudar os outros a se desenvolverem, a crescerem e a trazerem ao de cima aquilo que têm de melhor.
É pois com o meu tempo dividido entre estas 2 missões que me sinto sem focos para escrever os artigos na Visão, com a dignidade e competência que os seus leitores merecem. E daí este ser o meu último artigo.

E não podia terminar a minha colaboração sem uma nota de agradecimento. Agradecimento à Mafalda Anjos, pelo gentil convite que me fez para aqui escrever. Agradecimento a toda a equipa da Visão, pela forma profissional e muito simpática com que sempre lidaram comigo. Agradecimento à Ana Pinto Coelho, minha mulher e tantas vezes maravilhosa musa que me inspirou nestes artigos e na vida em geral, e, um último mas não menos importante agradecimento a todo o público que seguiu os meus artigos de opinião, que participou e se envolveu nos temas que aqui falámos.

Muito obrigado a todos e se quiserem seguir as minhas próximas aventuras, podem sempre encontrar-me aqui.

Até sempre!

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